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O COMENDADOR

Francisco Esteves – Empreendedor da Beira Interior

Francisco Esteves Gaspar de Carvalho, nasceu 30 de agosto de 1908 em Manteigas e faleceu a 8 de agosto de 1992, sendo o quinto de nove filhos de António Esteves de Carvalho e Maria da Glória Gaspar, tendo sido um um forte impulsionador do cooperativismo na Serra da Estrela ao longo de toda a sua vida.

Aos 14 anos de idade iniciou a sua atividade profissional como supervisor da Fábrica Têxtil, propriedade de um industrial reputado da região, que mais tarde viria a ser seu sogro. Aos 23 estreia-se ele mesmo como industrial de lanifícios e passado algum tempo começou a dar sinais de enorme talento para a gestão e inovação, sobretudo no aumento da capacidade produtiva.

Em 1931 casou com Maria Tereza de Sousa Coelho, filha única do já referenciado empresário têxtil, que faleceu muito cedo. O casal teve duas filhas.

Ciente de que ter sócios implicava contemporizar e assim comprometer algumas das suas ideias, decidiu arriscar sozinho e adquirir a unidade industrial denominada “Boqueira” onde engenhosamente soube diversificar o fabrico da lã. Passou a cardar, a fiar, a tingir e a tecer esta nobre fibra que, na altura, estava a transformar o tecido industrial da Serra da Estrela.

É nestas instalações que, ao longo dos vinte anos seguintes, se dedica aos fios de tricot e tecidos, aumentando paulatinamente a dimensão dos equipamentos de fabrico em detrimento dos pequenos engenhos.

A posição da fábrica junto ao rio Zêzere permitia a utilização da água para mover as turbinas, que, desta forma, lhe forneciam energia renovável, nomeadamente para as cardas e acabamento de tecidos, mais tarde também foi desenvolvida uma estação  de tratamento de águas residuais, o que reforça a preocupação e consciência ambiental e de sustentabilidade.

Em 1960, em conjunto com alguns industriais que lhe mereciam confiança, fundou, a partir da unidade industrial da Boqueira, aquela que viria a ser a grande empresa do concelho, de fios, malhas e tecidos, a SOTAVE – Sociedade Têxtil dos Amieiros Verdes, Sociedade anónima, chegando a estar presente no psi20. Esta sociedade veio a alterar consideravelmente todo o cenário económico da região.

As indústrias estão expostas a crises cíclicas e Francisco Esteves conhecia e temia as suas consequências. Sabia que uma redução da atividade industrial implicaria necessariamente dispensar trabalhadores, privando assim de rendimentos uma população já com enormes carências económicas.

Foi a consciência da sua responsabilidade social enquanto industrial que, em 1958, o impeliu a investir na atividade agrícola, nomeadamente vinhas. A redução a quatro dias dos horários da fábrica podia assim ser compensada com a utilização de mão-de-obra na agricultura, conseguindo um equilíbrio que, em tempos de crise, garantisse o emprego na região.

A Casa Agrícola Francisco Esteves, Lda. que nasce desta visão humanista, mas sempre com um fito económico subjacente, congrega nela não só o sector das vinhas, como se dedica à produção de maçã, e pêssego e ainda à produção de azeite.

Além da produção de vinho branco onde inclusive obteve vários prémios, nomeadamente o 1º Prémio no concurso “o Melhor Vinho” promovido pela Junta Nacional do Vinho, referente à colheita de 1981; a empresa expandiu a área cultivável da fruta para a Quinta de S. Francisco, em Valhelhas, por conseguir aí obter melhores resultados nas produções de maçã “golden”, pêssego, pêra rocha, cereja e kiwi, conseguindo desta forma aumentar largamente a escala.

Reconhecido como homem de grandes iniciativas, foi eleito Presidente da Direção da Cooperativa dos Produtores de Fruta do Distrito da Guarda, Membro da Comissão Restrita das Cooperativas da Fruta e pertenceu ao Grupo de Trabalho da Casa das Beiras, como representante do Concelho de Manteigas. Foi ainda Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Manteigas.

Além de industrial e agricultor, a sua carreira política é também incontornável:

Vice-Presidente da Comissão Concelhia da União Nacional, em 1958 é nomeado Presidente da Câmara Municipal de Manteigas, cargo que ocupa até 1970, tendo-lhe sucedido o seu irmão, Adelino Esteves Gaspar de Carvalho até 1974 e mais tarde o seu sobrinho materno, Joaquim António de Carvalho da Mota Veiga, de 1979 a 1982.[4]

Em 1969 é eleito, pelo círculo eleitoral da Guardadeputado à X Legislatura e, na Assembleia Nacional, ocupa o lugar de vogal na Comissão de Economia. É na discussão da proposta de Lei relativa à adoção de medidas promotoras do desenvolvimento do turismo na Serra da Estrela que Inicia a sua atividade parlamentar.

Durante o período em que exerce as funções de deputado toma a seu cargo diversas iniciativas parlamenteares em prol da região, nomeadamente:

  • No decorrer da 2.ª Sessão Legislativa, expõe a sua apreensão nas limitações impostas à exportação de produtos agrícolas e industriais para as províncias ultramarinas.
  • Na 3.ª Sessão Legislativa, onde subscreve o parecerda Comissão de Finanças e Economia sobre a Proposta de Lei de Meios para 1972 e manifesta ao Ministro das Obras Públicas o reconhecimento da população do seu Concelho para obras de beneficiação realizadas na estrada que liga Manteigas às Penhas da Saúde.
  • Ao longo de toda a carreira parlamentar, onde discute, na generalidade, a Proposta de Lei do Fomento Industrial e a de Autorização de Receitas e Despesas para 1973.

A 6 de Agosto de 1963 é condecorado com a medalha de Comendador da Ordem Civil do Mérito Agrícola e Industrial, Classe Industrial, e Comendador da Ordem de Benemerência, a 3 de abril de 1970.