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ENVOLVA-SE NA NATUREZA DA SERRA DA ESTRELA

A água, a água é impressionante. Toda ela escorre serra abaixo, como se a terra sangrasse vida e frescura. Como se estivesse a gargalhar permanentemente, num ruído natural, às vezes quase ensurdecedor, mas sempre formidável a quem ouve.

Estar na Serra da Estrela não é como estar em qualquer lugar. A ausência do ruído que vem da atividade humana dá uma dimensão diferente ao murmulhar das árvores, ao escorrer da água e ao cantar das aves. Na serra, o barulho dos aviões incomoda, ainda que voando a dez mil pés de altitude. Perturba, por ser a única coisa antinatural.

O verde das faias, o dourado das folhas no outono, as diferentes cores da primavera, o branco da neve no inverno, o cinzento das rochas, tudo na montanha é um festival de cor, para todos os gostos e estados de espírito.

Depois vêm os cheiros, diferentes, misturados, uns ora doces, outros algo estranhos, espalhados pelo vento, na forma como a natureza espalha a vida que há em si mesma.

Por fim uma raposa, um esquilo, uma lesma gigante, o musgo muito verde que cobre as rochas, que assim parecem forradas do mais belo veludo.

E são todas essas coisas que nos enchem a alma enquanto descemos, em silêncio, com as janelas do carro abertas e o rádio desligado.

É que, mesmo nessa altura, parece que a montanha ainda está a falar connosco e que é má educação interrompê-la.

“Texto original, gentilmente cedido pelo autor Rui Ferra Esteves”
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